Palácio Ribeira Grande

Tinha este palácio há bastante tempo na minha lista de locais abandonados para visitar, mas raramente vou a Lisboa (até porque não gosto, só de pensar em conduzir lá fico stressado), mas tive de ir em trabalho e pensei ir mais cedo (de madrugada) visitar o palácio e quando fossem 9/9:30 ir trabalhar. E assim foi. Eram 6:30 da manhã e estava eu a entrar neste incrível edifício. Esperei que a luz fosse apropriada para fotografar e comecei a explorar o local, que é enorme, completamente vazio e a degradar-se rapidamente.

O Palácio Ribeira Grande foi mandado edificar pelo Marquês de Nisa, D. Francisco Luís Baltasar da Gama, no começo do século XVIII. Mais tarde, o palácio passaria a ser propriedade dos Marqueses e Condes da Ribeira Grande. Durante algumas décadas, com o Palácio habitado, funcionaram aqui várias escolas. Nas últimas décadas do século XX e primeiros anos deste século, o Palácio da Ribeira Grande alojou o Liceu Rainha D. Amélia.

Embora grande parte do palácio tenha sido remodelado para albergar estas escolas, os grandes traços mais primitivos ainda podem ser vistos na fachada monumental, nos jardins e também na Capela de Nossa Senhora do Carmo, que contém retábulo-mor, feito pelo autor Máximo Paulino dos Reis.

É um edifício interessante e é daqueles abandonados que não são fáceis de entrar, porque estando numa cidade grande, tomaram medidas para evitar que as pessoas entrem, emparedando as portas e janelas, mas com alguma ginástica foi possível entrar.

Alguns abandonados estão completamente abertos, outros é preciso fazer um pouco de escalada, infelizmente sair deste abandonado não correu tão bem como quando entrei. Já visito lugares abandonados há uns anos, e tirando algumas surpresas, nunca tive um grande azar. Desta vez, as coisas correram pior, magoei-me à saída do edifício, fiz um rasgo enorme na mão e como estava sozinho, tive de pedir ajuda às pessoas que iam a passar. Felizmente ajudaram-me e chamaram uma ambulância, fui reencaminhado para o hospital mais próximo onde a ferida foi suturada com 30 pontos. Estou neste momento numa fase de recuperação, que ainda pode ser longa pois magoei os tendões dos dedos, e provavelmente vou necessitar de fisioterapia. Só espero que as coisas corram bem e que a única marca física que fique seja apenas a cicatriz.

Foi uma lição, daquelas lições de vida que vão surgindo e que me ensinou que é preciso ter mais cuidado e nunca ir sozinho para um abandonado. Não é algo que costume fazer, mas destas vez fui e correu mal. Depois de anos a fazer explorações tornei-me demasiado confiante e esse foi o meu erro. É muito importante ir acompanhado, pois caso algo corra mal, temos alguém ao logo que nos possa ajudar. Imaginemos que eu me magoava no interior do edifício, como fazia depois? Sei que atualmente a entrada neste edifício é quase impossível, subiram o muro e colocaram pedaços de vidro no topo. Se já era complicado entrar, agora só para malucos. Se quiserem visitar algum lugar abandonado, não façam o que eu fiz, explorem, mas com muito cuidado e acompanhados, pois a segurança é o mais importante!

André Ramalho

Sou um apaixonado por fotografia e locais abandonados, e por isso resolvi criar este blog, com o intuito de partilhar os meus registos e aventuras.

15 thoughts on “Palácio Ribeira Grande”

  1. Sou um apaixonado pela história de edifícios abandonados, sejam conventos, palacetes, fábricas ou antigos hoteis.

    Gostaria de fazer uma sugestão ao autor deste blog: Porque não indicar a localização dos edifícios abandonados (morada ou um pequeno mapa)?

    Obrigado.
    HJD

    1. Talvez isso faça sentido no futuro, mas apenas com locais historicamente conhecidos, os outros devem ser mantidos em segredo para os proteger de vandalismos e furtos.

  2. Boa noite, quando por lá andou, lembra-se de ter visto/fotografado algum retrato de religiosa (nomeadamente na capela)? Obrigada.

  3. Ola boa tarde, felizmente as minhas pesquisas cruzaram se com este blog, á já algum tempo que pesquiso locais, e andava encantada com as fotografias deste magnifico palácio.
    Agora que li, tudo esta reportagem vou repensar a minha visita.
    Predominantemente, exploro locais em que a entrada seja simples, até por questões legais, logo para além da beleza das fotografias de autor, também a informação foi extremamente útil.

    1. É sempre preciso cuidado Sónia, neste caso o perigo estava na entrada/saida, mas locais com entradas fáceis lá dentro também podem ser muito perigosos. Boas Explorações!

  4. André
    Andei neste Liceu Rainha D. Amélia; há cerca de dois anos visitei-o antes das obras. Tirei bastantes fotos e algumas, modéstia à parte, estão giras. Foram tiradas com o telemóvel, mas se quiser posso facultar-lhe. Será sempre um enorme prazer poder ver o “meu” liceu preservado no tempo e nas memórias.

  5. As melhoras André.
    E obrigado por partilhares connosco estas belas imagens deste palácio que, soube-se agora, vai ser um museu de Arte Contemporânea e também um hotel.

  6. Quero reforçar o apelo ao extremo cuidado! Ainda lá funcionava o liceu Rainha D. Amélia (andei lá nos anos 70) e mesmo assi já haviam zonas muito perigosas…claro, estavam supostamente fechadas e vedadas às alunas, mas mesmo assim um grupinho conseguiu de algum modo aceder a um desses locais e uma delas caiu através da claraboia de vidro do edifício central (na foto #1, com o terminal triangular). Pela parte de baixo, ao olhar-mos para o tecto, percebia-se que era uma clarabóia em vidro fosco, mas por cima, onde elas andaram, devia ter uma camada de lixo/detritos tal, que não se aperceberam que iam pisar um chão de vidro! Resultado, aquilo não aguentou o peso, quebrou tudo e a moça caiu de uma altura de uns bons 6 metros, através de vidros e caixilhos de madeira! Foi horrível, vê-la caída inanimada no chão, sangue por todo o lado…felizmente sobreviveu, muito ferida, longa hospitalização e cicatrizes para o resto da vida…

  7. Fiquei completamente maravilhade pelas tuas fotografias, espero que ainda tenha oportunidade de o ver pessoalmente. É simplesmente magnifico.

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