Quinta da Pianista

Descobri esta quinta, com cerca de 3 hectares de terreno e casa do século XIX, há cerca de um ano e meio e nesse espaço de tempo visitei-a três vezes. A primeira vez, durante um fim-de-semana dedicado aos locais abandonados e como não sabia o que ia encontrar, deixei esta casa para o final do dia. Rapidamente me arrependi, porque já havia pouco tempo de luz e muitas coisas para fotografar ainda. Nessa altura, pensei logo que teria de voltar um dia mais tarde para explorar mais e fotografar o local melhor.

Estranhamente, durante a primeira visita, na altura em que íamos a sair do local, detetámos que alguém se encontrava na parte de fora da casa, como se estivesse à nossa espera. Não percebemos quem era e resolvemos aguardar. 20 minutos depois e já praticamente de noite, saímos da casa, não vimos ninguém, mas ao caminhar rua abaixo, vimos um dos vizinhos à janela, a olhar fixamente. Claramente o senhor deve ter-nos ouvido e resolveu verificar o que se passava, mas como demorámos muito tempo a sair, voltou para a sua casa, mas ficou à janela a ver se via alguém, viu-nos, mas não disse nada.

A segunda vez que fui à casa, foi durante uma mini tarde de exploração com um amigo que gosta de abandonados, mas que só faz este hobby ocasionalmente. Resolvi levá-lo a alguns locais que achei que ele ia gostar, este incluindo.

E a terceira vez, voltei sozinho apenas com o propósito de melhorar as fotografias e fechar o álbum desta casa, de uma vez por todas. Curiosamente, das três vezes que visitei o local, foram sempre experiências diferentes, porque o próprio local foi mudando ao longo do tempo. Exemplo disso é a sala com a mesa de bilhar, que da primeira vez tinha o teto no sítio e na segunda vez (como podem ver nas fotos) já tinha o teto caído.

Aqui viveu uma professora e pianista muito conhecida na zona que ajudou a impulsionar a criação de uma escola de música e um teatro. A casa não tinha muitos papéis, cartas ou documentos que explicassem o abandono, mas numa carta que li entre a mãe e um filho, fiquei a saber que se tratava de uma família numerosa constituída por cinco filhos. Na carta, a mãe falava de um divórcio pelo qual outro filho estava a passar, como a situação era difícil e quase parecia, pela maneira como estava escrito na carta, que era uma vergonha para a família aquela situação, o que pode ser considerado normal, pois avaliando pela data da carta, estamos a falar de um divórcio na década de 70. Nessa altura, os divórcios não eram bem-encarados pela sociedade, muito diferente do que acontece hoje em dia.

A professora adorava música clássica, prova disso é um piano e um claveciterio na sala, algumas estátuas de pianistas famosos como Chopin e Mozart, vários cadernos de música e até mesmo um quadro sobre estes compositores. Também na família, um dos filhos dedicou-se à competição automóvel, passando por provas ligadas ao rally e até mesmo competições de velocidade em veículos clássicos, o que pode explicar a razão de estarem alguns veículos abandonados no exterior da casa.

Foi um dos locais que mais gostei de visitar e daí ter voltado tantas vezes, é raro encontrar uma quinta tão grande, com dois pianos, capela, muito mobiliário e carros cá fora como este, um cenário ideal para tirar fotografias.

André Ramalho

Sou um apaixonado por fotografia e locais abandonados, e por isso resolvi criar este blog, com o intuito de partilhar os meus registos e aventuras.

8 thoughts on “Quinta da Pianista”

  1. Andre’ Ramalho: tenha o maximo cuidado e nao deixe pistas de localizacao.
    Pelas fotos ha’ ainda um patrimonio a preservar (ex: azuleijos, mobiliario, etc.)
    Qualquer pista, mesmo na descricao, podera’ levar a saque e destruicao.
    Obrigado por esta maravilhosa partilha.
    LuisM Castanheira

  2. Bom dia André,
    Por muito que lhe peçam a localização, mesmo argumentando que não há divulgação da mesma, não dê essa informação valiosa.
    Este bichinho da curiosidade acompanha-me desde pequeno. Sempre que passo por algo que me parece ao abandono, sinto a curiosidade e a adrenalina a despertar.
    Para alem de locais abandonados, também sou um “explorador” de minas e grutas.
    Gostei muito do seu blog e agradeço a partilha, fiquei curioso por visitar estes lugares. Não lhe vou pedir localizações nem nada parecido, vou deixar que as coisas apareçam assim como tem acontecido e possa ser que um dia me cruze com alguns destes locais.

    1. Olá João. Não se preocupe que não forneço a localização, recebo diariamente vários pedidos de localizações, são tantos que eu actualmente já não consigo responder, até porque a resposta seria sempre a mesma, que não partilho localizações com quem não conheço.

  3. Belíssima Casa. Pelas imagens parece ser da segunda metade do XVIII, apesar do interior estar decorado ao estilo do XIX. Alguns azulejos também parecem bem antigos.
    Parabéns pelo trabalho!

    1. Olá Thais, sim sei o nome da pianista, mas pesquisando pelo nome facilmente se encontra a quinta, dai manter o nome em segredo 🙂

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