Escolas Esquecidas
Tal como fiz com a publicação Aeronaves Esquecidas, que é um conjunto de locais abandonados com aeronaves, reunidos numa única publicação, volto a fazer o mesmo, mas desta vez com o tema escolas.
São dois locais distintos que visitei há bastante tempo. O primeiro local é uma escola primária de 1932, do tempo da ditadura, conforme regista uma lápide de mármore na sua fachada. É um edifício lindíssimo da autoria de um conhecido arquiteto Português, que merecia ser restaurado.
Ao falar com uma senhora idosa (Sra. Maria) que vive num lar perto desta escola, a mesma indicou-me que foi naquela escola que aprendeu a ler e a escrever, assim como a filha. Recordou com carinho os dias de sua infância, quando frequentava a escola, que ficava a apenas alguns quilómetros de sua casa. A sala de aula era aconchegante e repleta de crianças curiosas ansiosas por aprender. A professora, Dona Clara, era uma mulher gentil e dedicada que inspirou muitas gerações de jovens naquela aldeia.
Foi também naquela escola que a senhora Maria conheceu o seu marido (João) quando eram ambos crianças e tiveram uma filha chamada Ana. Como os seus pais antes dela, Ana também começou a frequentar a mesma escola da aldeia e os pais ficaram orgulhosos de ver a sua filha a seguir os seus passos e a receber a mesma educação que eles haviam valorizado ao longo dos anos.
No entanto, o tempo não era complacente. À medida que as décadas passavam, a pequena aldeia começou a mudar. As famílias cresceram e muitas delas mudaram-se para cidades maiores em busca de oportunidades. A população da aldeia diminuiu e, com isso, a escola começou a enfrentar dificuldades. Os recursos eram limitados e a frequência dos alunos diminuiu gradualmente.
E um dia, de um momento para o outro, chegou a notícia que os moradores temiam. A escola, que havia sido o coração da comunidade por gerações, estava prestes a fechar. A falta de alunos tornou a manutenção do prédio insustentável. Dona Clara, já idosa, reformou-se e a escola ficou silenciosa pela primeira vez em décadas.
A escola tem estado abandonada os últimos 20 anos, as janelas estão partidas e a vegetação selvagem começou a tomar conta do pátio. Perguntei à senhora sobre a sua filha, indicou que Ana tinha crescido e foi para uma escola maior numa aldeia vizinha, onde teve acesso a mais recursos e oportunidades. A aldeia de João e Maria, uma vez cheia de risos de crianças, agora estava silenciosa durante o dia.
No entanto, havia uma faísca de esperança no horizonte. A aldeia vizinha, que agora abrigava a nova escola estava a prosperar. Novas famílias mudaram-se para lá em busca de um ambiente mais tranquilo e próximo da natureza. As crianças corriam pelas ruas e enchiam as salas de aula da nova escola. Maria tem esperança que eventualmente se lembrem da escola antiga e que a recuperem, talvez não volte a ser um local de ensino, mas poderia ser algo diferente, algo novo.
O segundo local, que apelidei de “Escola do Rádio”, funcionou durante mais de 150 anos, e ficou abandonada há cerca de 20. Em tempos idos, certamente teve muito movimento, agora predomina o silêncio. Infelizmente, ao contrário do primeiro local, não consegui falar com ninguém sobre a escola e ao procurar posteriormente não encontrei informações ou histórias sobre a mesma. O que notei é que num anexo atrás da escola, havia uma divisão cheia de painéis acústicos de madeira, material recente e fiquei por isso com ideia que os terrenos, principalmente este anexo, era usado por alguém, provavelmente a escola pertence à junta de freguesia e é usada para armazenar material.
Ambos os locais mereciam uma nova vida, principalmente o primeiro, devido à sua história e arquitetura. É uma pena ver edifícios tão bonitos e tão degradados. Vou ficar com atenção a eles, fecharam de um dia para o outro, talvez também possa aparecer a notícia que finalmente vai um deles, ou ambos, vão ser restaurados com a mesma rapidez.
Este tipo de edifício podia ser proposto aos estrangeiros para renovar… é bastante comum no Reino Unido renovarem antigos edifícios industriais para habitação. Talvez se perdesse um pouco do espírito, mas garantia-se a continuidade dos edifícios.
Muito interessante! Como o tempo passa….Onde fica este local?
Boas.
Antes de mais parabéns pelo blog, está sensacional. Tenho muita pena de não saber onde é, mesmo que saiba e perceba que quanto mais secreto for, menos pessoas têm probabilidade de o destruir. Tenho ainda mais pena que joias destas sejam deixadas ao abandono, uma vez que faz parte da nossa cultura e do nosso património. Ainda estive a procura, mas não consegui encontrar. A vida é feita destas coisas.
Continua com o bom trabalho, e obrigada por relembrares estas maravilhas!
Muito obrigado pelo comentário. Cumprimentos.